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Entrevistas

Treinador de Gastelum cita lições aprendidas em derrota para Adesanya

Derrotas nunca são fáceis. Nos esportes de combate, um resultado negativo pode mudar o rumo de uma carreira.

Porém em alguns casos, ela ensina lições e tem consequências positivas. É assim que Kelvin Gastelum e seu time encaram a derrota por decisão unânime para Israel Adesanya no UFC 236, que valia o cinturão interino do peso-médio.

Quem garante isso é Rafael Cordeiro, um dos principais treinadores de Gastelum e líder da Kings MMA. Em Nova York para acompanhar o retorno do pupilo no UFC 244, o brasileiro falou com exclusividade ao UFC Brasil sobre a preparação para o combate.

“O Kelvin passou por grandes dificuldades dentro do Octógono, e ninguém tinha colocado ele nessa situação antes. Isso é importante para o atleta. Foi uma grande vitória que tivemos, o Kelvin foi testado, ele ultrapassou os próprios limites como ser humano e se descobriu mais depois daquela luta”.

Confira a entrevista com Rafael Cordeiro na íntegra.

UFC: O UFC 244 é, possivelmente, o maior card do ano e será realizado em uma das mais famosas arenas do mundo: o Madison Square Garden. Você pode fazer um panorama geral de como foi a preparação do Kelvin para essa luta?

Rafael Cordeiro: Ele está motivado. Está na casa de grandes atletas, e grandes artistas que fizeram grandes shows. A gente sabe da importância dessa luta na carreira dele. Não gosto de fazer previsões, mas a gente treinou para nocautear. A gente sabe as possibilidades dessa luta, e com certeza é o sonho dele lutar novamente pelo cinturão, mas no pouco a pouco vamos chegar na disputa e as primeiras conquistas começam nesse sábado.

UFC: Na última vez em que competiu, o Kelvin fez uma das lutas mais emocionantes de 2019 na disputa pelo cinturão interino dos médios contra Israel Adesanya, e foi derrotado por decisão. Como foi o processo para superar esse resultado negativo?

Rafael Cordeiro: Foi motivacional. O Kelvin passou por grandes dificuldades dentro do Octógono, e ninguém tinha colocado ele nessa situação antes. Isso é importante para o atleta. Foi uma grande vitória que tivemos, o Kelvin foi testado, ele ultrapassou os próprios limites como ser humano e se descobriu mais depois daquela luta. Eu acho que é muito importante para o atleta de alto nível ter alguém que lhe pressiona a um ponto de ele descobrir que pode fazer muito mais, e a única lembrança que a gente tem dessa luta são lembranças boas, de que o Israel ajudou o Kelvin a descobrir um outro lado, que ele não conhecia.

Muitas pessoas não sabem, mas o Kelvin treinou três semanas só para aquela luta. Ele teve uma lesão, estava em uma situação horrível o garoto, e fez a luta. Imagina ele bem? Não é desculpa, ele perdeu. Mérito do Israel, ele foi um campeão naquela noite, mas acredito que pequenos detalhes vão fazer uma grande diferença na próxima luta.

Brasil

UFC: Apesar de vir da categoria de baixo, o Darren Till é um atleta bem alto, que tem como ponto forte a trocação. Como se preparar para esse tipo de adversário?

Rafael Cordeiro: [O Kelvin] é o menor da categoria. Cada cara que a gente vai lutar, a gente vai tentar abater de alguma forma. O procedimento para fazer isso com um cara grande é quase sempre o mesmo. A gente tenta projetar para frente, achar a nossa distância com inteligência, e isso o Kelvin vem fazendo há muito tempo. Ele já está acostumado, e temos caras grandes na academia para simular o Darren Till. Ele vai enfrentar um cara duro, mas pode ter certeza de que o Darren vai pegar a luta mais dura da carreira dele.

UFC: O Darren Till teve problemas com atrasos na viagem, e acabou chegando em Nova York apenas no final da semana. Em algum momento houve receio de que ele não conseguisse lutar? Como manter o foco nessa situação?

Rafael Cordeiro: Eu tento manter os caras focados da melhor forma possível, focados neles. A gente não tem que se preocupar muito com o cara, vamos fazer a nossa. O UFC nos trouxe, o UFC sabe o que fazer. Para [o Darren] vai ser um pouco mais difícil, mas nosso foco continua sendo fazer sempre o melhor. Em nenhum momento isso foi motivo de distração ou fez ele perder o foco.

UFC: O que uma vitória sobre o Darren, que apesar de ser conhecido ainda não é ranqueado na categoria, faz pelo Kelvin em termos de ranking e proximidade de uma disputa de cinturão?

Rafael Cordeiro: Eu acho que nos coloca na cara do gol novamente. A gente tem que tentar buscar sempre a grande luta. Chegar no cinturão sem ter feito uma grande luta parece que é só para tampar um buraco. As pessoas têm que lembrar de você. Eu acredito que isso vai levar um a mais. Acho que a gente está no caminho certo, sabendo que tem coisas grandes pela frente. Acredito que o UFC vê o Kelvin como um desafiante. Agora com essa queda do Borrachinha, a gente não sabe o pensamento do UFC, mas faria todo o sentido o Kelvin.