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Entrevistas

Uma estreia que é uma vitória

Portador de uma doença rara quando era criança, Gabriel Silva teve até que usar cadeira de rodas. Mas o irmão de Erick se recuperou, deu a volta por cima e foi contratado pelo próprio Dana White

Durante cinco anos, Gabriel Silva teve que se contentar em ficar vendo os irmãos e os amigos jogarem bola e correrem livres por Vila Velha, no Espírito Santo, enquanto ele próprio só podia fazer caminhadas leves. Diagnosticado com uma síndrome infantil rara chamada doença de Legg-Calvé-Perthes, Gabito, como é chamado, não podia praticar exercícios físicos e tinha que permanecer a maior parte do tempo em repouso.

A síndrome, que acomete crianças dos 2 aos 12 anos, é um distúrbio na parte superior do osso da perna, a cabeça femoral, que interrompe o fluxo de sangue para o quadril. Com isso, há alteração no crescimento do osso, que se deforma e necrosa. Com o passar do tempo, a criança pode mancar permanentemente. Em Gabito, ela manifestou-se aos 9 anos, quando ele começou a sentir dores nas pernas.

O diagnóstico foi difícil, mas assim que o recebeu o garoto descobriu que não poderia ter mais uma infância como a que estava acostumado. Ele chegou a passar por uma cirurgia, comum em casos mais graves, que o obrigou a usar cadeira de rodas e muletas por um ano. “Foi um susto na minha infância, mas hoje o problema foi totalmente superado”, diz ele.

Gabriel fala comigo por telefone do Texas, onde está para o UFC San Antonio, que acontece no dia 20 de julho. Ele é tranquilo e, tenho a impressão, evita falar sobre esse período – imagino que seja para não parecer que está se vitimizando. “Eu sabia que uma hora iria me recuperar daquele problema. Desde sempre me mantiveram cientes de que tudo ficaria bem. Mas, durante o tempo em que fiquei parado, acabei engordando muito.”

Gabito conta que não planejava praticar arte marcial. Mas quando, aos 14, foi liberado pelos médicos para fazer atividade física, o irmão Erick Silva – o mesmo Erick que atuou pelo UFC por seis anos – começou a dar aula de jiu-jítsu em Vila Velha, e o chamou para treinar. “Como o médico tinha mandado em fazer algo para ficar em forma, resolvi ir.”

O capixaba começou a gostar do negócio. “Fui pegando amor pelo esporte. E logo em seguida fui para o boxe. Com 16 anos já fiz lutas de boxe amador.” O caminho para o MMA estava aberto. “Foi algo que foi acontecendo. Não imaginei nem que tinha esse potencial”, conta Gabriel.

Da esq. para a dir.: Rogério Camões, Gabriel Silva e Erick Silva


“Mas, como meu irmão estava lutando MMA profissional, eu ia de intrometido nos treinos, de enxerido mesmo no meio da galera mais velha, dos profissionais. Tinha pouco tempo de jiu-jítsu e de boxe e acho que comecei com aquilo do ‘mixed’, que é o MMA, na hora certa. Não sou como outros lutadores que têm uma base de uma ou outra modalidade. Eu fui direto para o MMA.”

Aos 17, ele estreou no MMA profissional com três lutas em Vila Velha. Aos 18, resolveu ir para o Rio de Janeiro morar com Erick e treinar na Team Nogueira.

Fez oito lutas até hoje – e está invicto.

Entrou no UFC pela porta da frente: Gabito impressionou o próprio Dana White em sua última luta, em março deste ano, pelo LFA, com um nocaute em Jake Heffernan. Dana estava no evento gravando um episódio do Lookin’ for a Fight.

Gabriel Silva foi contratado por Dana White no programa Lookin' for a Fight. Confira o episódio completo

Brasil

“Quando fechei a luta para o LFA não sabia que ele estaria presente, mas um pouco antes do evento nos contaram”, diz ele. “Tentei manter a calma, o foco, para não deixar que aquilo afetasse meu desempenho. Fiquei imaginando que era um espectador como outro qualquer. Aquele era meu trabalho e tinha que mostrar o que eu sabia, ele estando ali ou não.”

O nocaute veio aos 1:23 do primeiro round. “Acabar a luta com um nocaute sempre é bom. Foi como se tirassem um saco de cimento das minhas costas. A chamada de Dana no fim foi a cereja do bolo. Eu tinha vindo de uma cirurgia no ombro no começo do ano passado e o processo foi bastante complicado. Fiquei o ano todo inativo, tentando me recuperar para voltar. Estava com aquela coisa de querer lutar, precisar lutar.”

Quando se recuperou, estava ansioso por voltar à ativa. “Fecharam a luta no começo do ano e eu fiquei pensando que já fazia muito tempo que estava parado e pegaria um cara duro. Quando o resultado é positivo como foi, a gente explode de felicidade.”

Ele estreia no UFC aos 24 anos neste fim de semana, contra Ray Borg, mas nada do que está vivendo agora parece tão novo para o capixaba. Gabriel já esteve em outras Fight Week, como são chamados os dias que antecedem um evento, acompanhando Erick.

Sobre semelhanças e diferenças com o irmão, ele conta: “No jogo de luta a gente é bem diferente. Ele luta mais em pé. Eu sou um pouco diferente. Gosto mais de luta agarrada, das transições do grappling pro chão. Busco esse tipo de luta. Já na personalidade a gente é um pouco parecido. Moramos juntos por muito tempo, não tem como não levar um pouco um do outro. Sou bem tranquilo, até meio frio nas tomadas de decisão, consigo visualizar bastante o que pretendo fazer.”

E como ele anda às vésperas da estreia? “A expectativa é muito grande não por pressão, mas por querer que chegue logo o dia para eu mostrar o trabalho que sei que foi bem feito. Sei que estou pronto. E eu já estive nesse ambiente do UFC e isso me tranquiliza. Estou bem aqui.”

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