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A volta de Anderson Silva, o ídolo brasileiro

Ex-campeão dos médios tem mais apelo que muitos grandes jogadores de futebol do país. Ele enfrenta Michael Bisping neste sábado(27), em Londres

Anderson Silva voltará ao octógono na noite deste sábado (27), em Londres, para enfrentar o inglês Michael Bisping. Para muitos pode parecer apenas mais uma luta, mas para milhões de brasileiros é a volta de um dos principais atletas do país que mais uma vez conseguiu dar a volta por cima. Mesmo sendo ex-campeão, o Spider ainda é um dos atletas mais admirados no Brasil e suas lutas costumam parar o país.
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Para entender toda essa idolatria é preciso voltar na noite de 5 de fevereiro de 2011. Um brasileiro campeão do UFC há quase quatro anos precisou de apenas um golpe para nocautear outro brasileiro que já havia feito história nas artes marciais mistas – e era conhecido do grande público. Meses depois, Anderson Silva estava em todos os programas de televisão, revistas, shows e tudo mais que um grande ídolo pode esperar.

Mais que a vitória com um chute frontal perfeito, o Spider se tornou um dos maiores esportistas do Brasil por tudo que ele representa para o seu povo: foi abandonado pelos pais ainda novo, morou com os tios militares em outra cidade, tentou ser jogador de futebol, cresceu com dificuldades financeiras, virou lutador e passou a representar seu país pelo mundo.


 
“O Anderson Silva leva o Brasil para um patamar que nenhum outro atleta de MMA consegue levar. Talvez ele consiga bater até mesmo a maioria dos grandes jogadores de futebol. A exposição de mídia dele está em outro patamar”, explica Marcelo Alonso, editor do Portal do Vale Tudo. 


A cada nova disputa de cinturão, dentro ou fora do Brasil, todos os brasileiros paravam e se reuniam para assistir o Spider em ação. Sua música de entrada no octógono, Ain't No Sunshine, ainda é constantemente tocada em baladas e as academias de luta lotaram de novos alunos querendo aprender o chute frontal, as esquivadas e tudo mais que ele apresentava a cada noite.

“O esporte brasileiro sempre viveu de herois solitários. A lista inclui Adhemar Ferreira da Silva, Ayrton Senna, Oscar Schmidt, Gustavo Kuerten entre tantos outros. Invariavelmente, quando eles pararam, o país ficou órfão do talento que eles deixaram de mostrar, e que tão bem nos representava. Anderson Silva está neste panteão de grandes herois do esporte brasileiro”, analisa Marcelo Russio, editor do Combate.

Se a seleção brasileira não ia bem nos torneios de futebol, Anderson Silva estava batendo todos os recordes no octógono. Era o melhor lutador peso por peso, maior número de vitórias consecutivas, defesas de cinturão e tudo que vinha pela frente. Mas pela frente veio um norte-americano que entendeu o estilo de luta do brasileiro e o nocauteou com um jab sem muita força.

O começo do recomeço

Porque devo isso ao meu país, eles precisam de felicidade

Na noite da derrota para Chris Weidman, em julho de 2013, Anderson simplesmente deixou seu telefone de lado e tentou não ligar muito para as críticas. “Vamos sair para jantar, mas é bom tirarem os uniformes. Estou olhando nas redes sociais e não estão felizes com a gente”, disse ainda em seu quarto. Ele permaneceu calado o resto da noite, pensando em tudo que aconteceu e no outro dia já falava que precisava voltar a lutar “pelo povo brasileiro”.

Dito e feito! Alguns meses depois veio o anuncio da revanche contra Chris Weidman. Muitos não acreditavam que ele voltaria ao octógono, porque arriscar seu legado outra vez? “Porque devo isso ao meu país, eles precisam de felicidade”, repetia o Spider. Os brasileiros esqueceram as rusgas da última luta e, mais uma vez, se juntaram para torcer pelo seu maior ídolo.

Mas quis o destino que Anderson Silva sofresse um acidente e fraturasse a perna brutalmente no segundo round da luta. Parecia que cada brasileiro sentia os gritos do Spider no octógono, enquanto Weidman comemorava sem ter noção da gravidade da lesão. O ex-campeão foi para a sala de cirurgia imediatamente e algumas horas depois, ainda sob o efeitos de remédios, mandou uma mensagem para a sua equipe. “Quando vou poder voltar a treinar?”.

Os principais meios de comunicação do Brasil ficaram de plantão na porta do hospital em Las Vegas, todos queriam saber como estava a recuperação. Um dos mais tradicionais jornais do país deu como principal notícia da noite que o Spider deveria passar seis meses sem treinar. E essa guerra por informação entre os jornais e sites seguiu por toda a recuperação, até ser confirmado que ele voltaria a lutar contra Nick Diaz.


“Suas vitórias e derrotas têm o efeito da conquista ou da eliminação do país em uma Copa do Mundo. A diferença de Anderson para os demais grandes nomes do esporte brasileiro é que ele voltou quando todos davam como encerrada sua carreira. E sua volta deu ao Brasil o que faltava: o conforto de ser novamente representado por um gigante”, diz Marcelo Russio.

E foi assim que aconteceu. Os brasileiros voltaram a se reunir e torceram por Anderson Silva como se o Brasil estivesse em uma final de Copa do Mundo. O choro do Spider no final da luta continha uma lágrima de cada torcedor que estava em casa vibrando com sua atuação. Dias depois, em sua primeira visita ao Brasil após a volta era comum escutar por onde ele passava: “O campeão voltou”.