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A tal da TRT

Entenda de uma vez por todas o que é a tão falada terapia de reposição de testosterona

O termo é curto, mas está sempre em alta e gerando  polêmicas e dúvidas entre os fãs de MMA. A TRT, ou terapia de reposição de testosterona, vive à tona por ser usada por alguns lutadores – e por ter sido recentemente proibida nos Estados Unidos pela Comissão Atlética de Nevada , principal órgão que regulamenta o UFC. Mas, afinal, o que é essa tal terapia, para que ela serve e por quem deve ser usada? Os médicos Daher Chade, urologista do Hospital Sírio Libanês e do Instituto do Câncer de São Paulo, e Márcio Tannure, diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA), esclarecem.

A testosterona
É o hormônio fabricado em larga escala nos testículos e responsável por características masculinas, como desenvolvimento do pênis, timbre de voz, crescimento dos músculos e até agressividade e força de explosão. 

Segundos os especialistas, são considerados normais níveis de testosterona entre 300 ng/dl (nanogramas por decilitro de sangue) a 1000 ng/dl. Menos de 200 ng/dl são considerados níveis baixos. Alguns laboratórios aceitam como normais níveis de até 1200 ng/dl. Acima de 1600 ou 1700 ng/dl o paciente pode ser diagnosticado com uma dose ‘cavalar’. 

A partir dos 40, quando os sintomas começam a aparecer, a queda é, em média, de 1% ao ano. Mas as taxas de hormônio também podem cair por causas externas, como, por exemplo, depois de tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Em atletas, a queda de testosterona pode ocorrer por traumas na região do testículo, volume excessivo de treino ou por causa do uso de esteroides anabolizantes.

A indicação da TRT
“A maior indicação de TRT é para o tratamento da andropausa ou hipogonadismo tardio, uma doença causada pela deficiência de produção da testosterona pelos testículos”, afirma o doutor Daher Chade. A andropausa é semelhante à menopausa feminina, fase em que a mulher deixa de produzir os hormônios estrogênio e progesterona.

“Baixos índices de testosterona atingem principalmente a parte sexual, causando a queda da libido e a disfunção erétil. Mas também podem ocorrer sintomas clínicos gerais, como obesidade, aumento de doenças cardiovasculares, diabetes, osteoporose e maiores índices de depressão.” O homem deve procurar um médico quando perceber perda da libido, impotência, depressão ou aumento do peso corporal para fazer exames de dosagem sanguínea de testosterona total e testosterona livre.

A administração
“As drogas injetáveis e transcutâneas (em gel ou spray) são as melhores formas de administração da testosterona”, explica o doutor Chade. “O uso de derivados hormonais por via oral trazem um grande risco a saúde devido à sua metabolização, causando diversas consequências, como doenças irreversíveis no fígado.”

Geralmente, as injeções têm ação de 90 dias e, por isso, são aplicadas a cada três meses durante um ano. Há também uma injeção que deve ser tomada duas vezes por mês. Já o gel deve ser aplicado localmente nas axilas todo dia. 

TRT e o doping
A polêmica em torno da TRT no meio esportivo ocorre especialmente porque muitos atletas que não a fazem acreditam estar em uma desvantagem competitiva. A Wada, a Agência Mundial Antidoping, permite a reposição hormonal em casos de hipogonadismo orgânico, aquele provocado pela alteração estrutural nos testículos e que pode promover a deficiência definitiva do hormônio – a TRT faz parte, assim, da lista de substâncias com isenção de uso terapêutico. A agência exige, no entanto, uma profunda investigação na causa do uso. Justamente por causa da polêmica e da dificuldade cada vez maior de se obter a isenção de uso terapêutico pela Wada, as comissões atléticas de vários estados americanos e a do Brasil proibiram a TRT até para atletas com hipogonadismo.

O pedido do uso por atletas
Desde fevereiro deste ano o tratamento está proibido pelos principais órgãos que regulamentam o UFC, mas sua liberação acontecia depois de os lutadores mandarem vários exames para as comissões atléticas dos estados onde aconteceria o evento, com relatórios do médico, explicando qual seria a frequência e qual a substância ingerida. “A gente analisava para saber se o pedido tinha procedência. Se estivesse tudo certo, o médico pessoal poderia prescrever os remédios, mas apenas a comissão poderia avaliar”, diz Márcio Tannure. Só dois lutadores, de acordo com o médico, entraram com o pedido e foram liberados para fazer uso da terapia no Brasil: Vitor Belfort e Dan Henderson

O controle do uso

Os lutadores que faziam uso do TRT tinham que passar por exames de sangue 90, 60, 30, 15 dias antes e um dia depois da luta. “Todos fazem testes com urina, mas a dosagem de testosterona é indicada pelo teste no sangue”, afirma Tannure. Além de fazer os exames de rotina, quem estivesse passando pelo tratamento estava sujeito a testes de sangue surpresa – em alguns casos, eles eram testados de 15 em 15 dias. 

Com o fim da permissão para lutar com a reposição hormonal, os lutadores voltaram a ser testados a gosto das Comissões Atléticas dos estados onde as lutas serão realizadas. Por exemplo, se um lutador quiser atuar em Las Vegas, ele passará por exames que serão organizados e monitorados pela Comissão Atlética de Nevada. No caso do Brasil, a responsável pelos testes é a Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA). As punições, em caso de o lutador ser flagrado em algum exame, também são estipuladas pelas comissões, podendo aumentar se o atleta for reincidente. 

O tempo para ficar “limpo”

O tempo para que os vestígios do tratamento desapareçam do organismo gira entre 3 e 6 meses. “O atleta precisa saber de quanto tempo precisa, para poder se programar. Já que não é mais permitido, ele vai ser testado como qualquer outro lutador, mas ainda pode ter resquício”, diz Márcio Tannure.
 
Os riscos

A má administração da terapia pode trazer muitos efeitos adversos, de acordo com Daher Chade, como atrofia testicular, ginecomastia (aumento das mamas), cirrose no fígado e aumento do risco de trombose venosa ou embolia pulmonar.