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Entrevistas

A menina que sorria por timidez estreia no UFC

De atendente de restaurante a lutadora com 12 vitórias consecutivas, Ariane Carnelossi, a Sorriso, enfrenta Angela Hill neste sábado (21)

Em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, pergunte por Ariane Carnelossi e provavelmente não vão saber de quem você está falando. Mas fale sobre a Sorriso que o negócio muda.

A prudentina ganhou esse apelido na academia Inside, sua equipe desde que começou a praticar muay thai, aos 17. “Sou muito tímida e quando comecei a treinar eu não conversava. Meu treinador vinha falar comigo e eu apenas respondia dando risada”, diz ela sobre o coach Hugo Gonçalves.

“Um dia, um amigo meu morreu e meu treinador veio conversar comigo. Acabei rindo literalmente pra não chorar, e ele me falou: ‘Poxa, você sorri até nesse momento complicado... Pronto: vou te chamar de Sorriso’. Na minha cidade, pouquíssimas pessoas ainda me chamam pelo nome.”

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Aline resolveu entrar na academia porque queria fazer alguma atividade física. Profissionalizar-se não estava nem em seus sonhos. “Mas, conforme eu fui treinando, fui pegando gosto e passei a ver o mundo da luta com outros olhos.”

Sorriso começou a se destacar em competições da arte marcial e foi por sugestão de Hugo que ela começou também a praticar jiu-jítsu. Quando viu, já estava participando de campeonatos de MMA. “Após alguns anos treinando muay thai e jiu-jítsu, resolvi me profissionalizar no MMA e aqui estou. Foi a melhor decisão que eu poderia tomar na vida”, conta ela.

“Meus treinadores Hugo Gonçalves e Márcio Mendes enxergaram em mim um potencial para lutar profissionalmente. Conversamos sobre a ideia e claro que a minha resposta foi positiva. Naquela altura, lutar profissionalmente já era o que eu queria para a vida.”

A família, a princípio, não apoiou muito. O medo de que ela se machucasse falava mais alto. Depois, foram entendendo sobre o esporte. Hoje? “Me acompanham sempre que possível”, diz Sorriso.

Antes de conseguir viver mesmo do esporte – hoje, além de atleta do UFC, ela dá aulas em sua academia –, Sorriso enfrentou as dificuldades típicas de vários atletas brasileiros. Teve, por exemplo, que conciliar os treinos com o expediente de um restaurante. “Era bastante cansativo”, relembra. “Mas algo dentro de mim dizia para seguir firme. Viver do esporte no Brasil é algo muito complicado, né? Graças a Deus estou em uma ótima equipe e em uma cidade onde muitas empresas amigas investiram muito no meu trabalho para que eu chegasse onde cheguei”, afirma.

Ela e a equipe já passaram por poucas e boas. “Já viajamos sem dinheiro para as refeições e hotel, fomos para lutas sem sequer ter o dinheiro do combustível de volta, caímos na mão de donos de eventos picaretas com más intenções e sem palavra”, enumera.

 “Essas experiências me fizeram a atleta que sou hoje. Mar calmo não cria bons marinheiros. Sou grata a tudo isso e a todos aqueles que acreditaram quando nós éramos apenas lutadores com um sonho e um objetivo em mente. Se cheguei onde cheguei, não foi sozinha, tem muita gente por trás que merecem colher esses frutos semeados há tanto tempo.”

Quando recebeu o convite para fazer parte do plantel do UFC, Sorriso mal acreditou. “Foi incrível! Confesso que demorou alguns dias para cair a ficha. É engraçado, porque a gente sonha todos os dias com esse momento, a gente visualiza ele acontecendo milhões de vezes, mas, quando ele realmente acontece, a gente fica sem saber como reagir”, ela ri.

 Com um cartel de 12 vitórias e uma derrota, que aconteceu logo em sua primeira luta, Sorriso enfrenta Angela Hill no UFC México neste sábado. “Estar no UFC sempre foi o meu sonho e da minha equipe. Só nós sabemos o quanto trabalhamos para chegarmos aqui. É uma alegria enorme, a maior da minha carreira até aqui.”

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